domingo, 9 de outubro de 2016

Resenha de "É Fada!"

Primeiramente, perdão pela ausência. Algumas coisas aconteceram inicialmente, mas depois minha ausência foi por puro desleixo. Voltarei em breve, quando estiver com menos coisas na UnB a serem feitas.

Em segundo lugar, ontem assisti ao filme "É Fada!", que estrelava Kéfera Buchman (ou qualquer anagrama disso), e estou positivamente surpreso. Em minha conta do LivroFacial publiquei uma resenha sobre a película, e aqui estou a colocando novamente.





Eu poderia simplesmente colocar esta referência a Seinfeld  acima me referindo à obra brasileira do século, a ribombante película "É Fada". Mas seria mais digno escrever uma resenha séria a respeito, afinal presenciamos a criação de um divisor de águas na história artística brasileira.
Além dos pontos sociais críticos já tratados em uma resenha de um camarada meu (que deve ser linkada no futuro próximo), as referências ao filósofo Julius Evola, Hellraiser e tudo mais, destaco mais uma. É uma clara referência à obra de Aluísio Azevedo "O Cortiço".
A protagonista Júlia é uma versão actualizada e contemporânea de Pombinha, a "flor do cortiço", porque no meio degradante e degenerado da escola nova (o Cortiço moderno), Júlia contrasta por ter sua personalidade forte. A personagem que representa Leonie, responsável por não somente deflorar Pombinha mas também introduzir esta ao mundo da prostituição, é a professora de educação física, ao insistir que a menina Júlia dançasse em frente à sua classe, ainda que esta não quisesse, e esse papel continua no filme com Geraldine (Kéfera), sempre fazendo a menina se adaptar ao meio (no caso d'O Cortiço, a prostituição, e de É Fada, não é tão diferente assim).
Assim como o personagem de Aluísio de Azevedo Jerônimo, o pai da menina Júlia é um homem honesto e dedicado ao trabalho, mas cede à sensualidade e aos desejos carnais, na obra do escritor sendo a Rita Baiana, e, na película por mim assistida no dia de ontem, sendo a mãe da protagonista.
O filho do dono da cantina da escola claramente também tem um pouco de Pombinha, mas ao contrário desta, ele não foi corrompido, contrariando o contestável e criticado determinismo extremista de Aluísio Azevedo.
Geraldine (por Kéfera interpretada) não é somente o reflexo da busca por prazer e seus limites, a dor e tudo mais, como já foi apontado na resenha já mencionada anteriormente. Por exemplo, a Fada é um personagem extremamente complexo com influências de vários locais, seu bordão de "três escolhas" sem dúvidas veio de Jano, deus da mitologia Romana, onde cada uma das possíveis escolhas abre um novo caminho, inicia um novo ciclo.
Também sou levado a ver muitas influências de Seinfeld, sitcom dos anos 90, na película.
O chefe de Geraldine não é muito diferente do Soup Nazi, personagem clássico de Seinfeld. Sempre muito rigoroso e metódico, ele é talentoso e acaba sucumbindo aos seus pequenos erros, no caso do Soup Nazi, ter deixado suas receitas no armário, e no caso do chefe de Kéfera, ter cedido às palavras sensuais que esta lhe falou.
Júlia tem traços de Kenny Bania, como na cena em que, tal como Bania insistir em ter um jantar em vez de uma sopa, ela insistia em ter uma pulseira específica para entrar em uma festa (que tinha sido ideia de Geraldine).
Isso sem mencionar a personalidade de Geraldine, que mistura um pouco dos quatro protagonistas da exímia sitcom.
Tal como estou certo que Jerry Seinfeld também teria uma epifania ao ver a película referida no trecho do episódio "The Chinese Restaurant", da segunda temporada de Seinfeld, estou certo que nenhum indivíduo se decepcionaria com "É Fada".

Bem, é isso. Assistam.