sábado, 22 de abril de 2017

"The Conversion" e fetichismo religioso-ideológico

Esses dias estava revendo um excelente episódio de Seinfeld chamado "The Conversion". É ainda mais engraçado quando você começa a perceber que as coisas que se vê na sitcom acontecem mais e mais na vida real. Realmente é um show sobre nada.

O enredo que quero destacar é relativamente simples. George tem uma namorada a qual, quando eles estão para tornar o negócio mais sério, termina com ele porque os pais são ortodoxos letões, ou cristãos ortodoxos, do oriente, que só se relacionam com pessoas da mesma religião. Qual o plano do semi-Larry David? Ele não é nem um pouco religioso, então, por que não se converter somente para conseguir ficar com a namorada? E assim ele faz. Colando numa prova de conhecimentos gerais sobre a igreja em questão, George consegue iniciar seu processo de conversão, apesar de seus pais se revoltarem com o chamado paganismo do filho.

É muito similar ao que acontece de verdade com muitas pessoas. Sejam as pessoas assistindo Vikings e forçando tradição nórdica, sejam as pessoas procurando religiões obscuras para seguir, religiões as quais dificilmente seriam encontradas no Brasil, ou sejam as pessoas forçando religiões lacradoras por questões políticas.
Curiosamente, também, isso influencia ideologicamente também a pessoa. No primeiro exemplo dado anteriormente, ela começa a forçar superioridade nórdica (quando os países nórdicos vivem num pesadelo social-democrata de terrorismo e bolhas econômicas), no segundo, a pessoa pode, por exemplo, começar a forçar superioridade e moralidade russa (quando a Rússia não só é um país com vício em bebidas começando cedo, como também altíssimos números de DSTs, com a promiscuidade incontrolável), ou com as pessoas que começam a seguir o candomblé, a umbanda, ou qualquer coisa similar, sem de fato ter uma tradição para isso, forçando cultura que não é dela e, provavelmente, sendo progressista.

Em vez de seguirem os valores passados para elas por família -- sejam eles bons ou não --, ficam procurando um conjunto moral que satisfaça o fetiche próprio, sem raciocinar, sem encontrar soluções racionais e lógicas para esses assuntos. No fundo, essas pessoas são muito parecidas: são facilmente influenciadas pelos fetiches que têm.

No episódio de Seinfeld, é um fetiche da forma mais explícita possível dentro do permitido se fazer em uma sitcom: George está fazendo isso somente para ficar com a sua namorada. E convenhamos, o George não é a pessoa mais moralmente plausível do mundo. Na verdade, provavelmente está mais próximo do contrário.

É engraçado notar padrões no comportamento das pessoas as quais, por fora, parecem ser tão diferentes.
Bem, é isso.

Nota: esse texto é antigo, mas publiquei agora porque estive dando uma olhada no livro de William Irwin Seinfeld and Philosophy: A Book about Everything and Nothing, o primeiro da série Popular Culture and Philosophy, que é legalzinha mas não tão boa assim começou em 2000 e traz livros como Curb your Enthusiasm and Philosophy, Soccer and Philosophy, Dr. Who and Philosophy e Bob Dylan and Philosophy (que eu estou terminando de ler).